Laurie Laufer: “Se você fosse homossexual ou transgênero, você teria medo de procurar um psicanalista”

A pesquisadora francesa comenta sobre seu trabalho desconstruindo tabus sexuais nas pesquisas que envolvem a psicanálise.

“Liberdade, igualdade, fraternidade!”: A Revolução Francesa é a representação do papel do povo na luta pela democracia. Contudo, durante muito tempo, os direitos universais do homem eram assegurados efetivamente apenas para o homem.

Esta realidade é testemunhada por Laurie Laufer, que se desenvolveu como acadêmica em estudos de gênero, psicanálise e políticas sexuais durante a ascensão do conservadorismo francês na última década.

Laurie Laufer embarcou, em 2017, para a Costa Rica em uma parceria com a Faculdade de Psicologia da França para ministrar um seminário sobre gênero e psicanálise, possibilitando essa entrevista.

Você é autora do livro “Qu’est-ce que le genre?”, onde aborda um conceito básico muito importante nos estudos feministas. Como ele abrange a definição de gênero na sociedade contemporânea?

O livro é uma obra coletiva: integra literatura, cinema, sociologia, história da ciência política, psicanálise, psicologia, psicologia do trabalho, etc. É um livro que tem como perspectiva estudar gênero a partir de diferentes pesquisadores e áreas de pesquisa e como eles utilizam o conceito para desconstruir estereótipos, preconceitos que naturalizam as relações sociais. O livro é uma resposta ao contexto atual francês em torno do conceito de gênero. Os conservadores diziam que todos aqueles que trabalhavam com gênero queriam que as mulheres se transformassem em homens, que todos eram homossexuais, que os filhos adotados por casais homoafetivos iriam enlouquecer… uma radicalização. Uma propaganda muito forte, muito conservadora, dos estudos de gênero. A resposta que proponho é que o gênero é um método para analisar hierarquia, discriminação, práticas discursivas e construções sociais.

Você possui uma ampla pesquisa sobre a psicanálise, como feminista. Que abordagem você dá a este viés da psicologia, considerada ainda muito patriarcal, e como combina com autorxs mais modernxs e feministas como Butler e Foucault?

Quando falamos de reprodução e sexualidade a situação fica bastante complicada. A psicanálise é uma ciência da sexualidade. Na década de 1950, a questão da transexualidade foi introduzida no campo da psicanálise e, a partir daí, iniciou-se o contato com o conceito de gênero. Contudo parou por aí, pois houve um movimento de patologização e medicalização da psicanálise. Durante todo esse tempo, o trabalho das ciências sociais a partir do gênero continuou a se desenvolver e esse distanciamento da psicanálise das questões sobre a sexualidade acabou provocando a rejeição de muitos grupos intelectuais.

Atualmente, em comparação com as ciências sociais, os psicanalistas estão apenas começando a estudar e dar as suas impressões e opiniões nos estudos de gênero. No campo da psicanálise, poucos pesquisadores questionam as práticas discursivas, o surgimento de conceitos e noções como a diferença entre os sexos, por isso me considero uma minoria dentro da academia. Fui a primeira a trabalhar essa relação entre gênero e psicanálise, já fora da universidade há outras pessoas que trabalharam essas questões a partir dos estudos de gênero, mas também são uma minoria do campo da psicanálise. É por isso que esta relação entre gênero e psicanálise permanece tão subversiva.

Você se autodefine como ainda uma minoria acadêmica dentro dos seus campos de estudo. Qual é a reação dos demais pesquisadores quando você expõe o que você vem estudando e propondo?

Na França há uma diferença política em relação aos Estados Unidos, por exemplo. Há uma tradição em relação ao discurso de que o direito do homem é universal, um republicanismo universalista. Em contrapartida, os Estados Unidos reconhece a particularidade das comunidades e por isso encontramos estudos específicos em relação as lésbicas, gays, pessoas com deficiência, negros, entre outros. Cada “comunidade” produz suas pesquisas, seus estudos, projetos, em diferentes campos. Na França não acontece dessa forma. É por isso que no início foi fácil dar lugar a esta posição. Repreenderam-me por ter uma abordagem americana, o que na França é um insulto. Me censuraram por sociologizar a psicanálise – o que é outro insulto -, e me censuraram por ter um discurso militante.

A psicanalista francesa Laurie Laufer é a nova autora da Criação Humana. Laurie é psicanalista, feminista, diretora e professora do Centro de Pesquisa em Psicanálise, Medicina e Sociedade da Universidade de Paris 7. Em 2024 lançaremos a tradução do livro “Vers une psychanalyse émancipée: renouer avec la subversion”.

Entrevista realizada pela jornalista Lucía Molina Rodriguez para a Universidade da Costa Rica (clique aqui para ler a entrevista original)

Que bobagem, Pasternak! Livro erra sobre psicanálise em 9 pontos – Parte 2

Texto originalmente publicado na coluna do psicanalista Christian Dunker no blog da Uol Tilt

Na coluna anterior discutimos a função e a importância da divulgação científica no Brasil, necessidade que se tornou ainda mais patente depois da maneira como enfrentamos a crise mundial de covid-19, bem como a facilidade que estamos apresentando, em termos comparativos, para lidar com fake news e demais manipulações acríticas de informação, saber e conhecimento.

Por isso a divulgação científica deveria, sobretudo, seguir as regras da própria prática da ciência, pois desta maneira não apenas se fala sobre o que é ciência, mas se mostra, em escala reduzida e adaptada, como procede um cientista.

Ou seja, como ele levanta perguntas, trata de reunir evidências, como ela assume compromisso com métodos que tornam o caminho de sua investigação capaz de ser percorrido por outros e, no limite, por qualquer um.

Reconhecer peculiaridades do objeto, cruzar achados de diferentes disciplinas, combinar estilos de demonstração são procedimentos básicos naquilo que anda em rarefação crescente na cultura educacional e no debate público brasileiro: a chamada ciência básica, aquela que ensina ciência transversal, história da ciência e as abordagens elementares sobre os fenômenos da natureza e das humanidades.

Ora, para mostrar como não se deve fazer divulgação cientifica, tomemos como exemplo o livro de Natalia Pasternak e Carlos Orsi (“Que Bobagem! Pseudociências e Outros Absurdos que Não Merecem Ser Levados a Sério”, editora Contexto) naquilo que ele toca a psicanálise, para mostrar como vieses e distorções de pensamento podem dificultar a formação do pensamento científico, naquilo que ele tem de mais próximo da filosofia, ou seja, a capacidade de levantar dúvidas e criar hipóteses prescindindo do recurso à autoridade, ao dogmatismo e às crenças constituídas.

Examinemos então afirmações que permitem elucidar tais vieses:

1. Eficácia da psicanálise

A Psicologia científica cobra evidências mais robustas para justificar alegações teóricas quanto a sucessos clínicos”

p. 186

Há centenas de estudos controlados mostrando a eficácia da psicanálise, das Terapias Psicodinâmicas e das Psicoterapias Psicodinâmicas de Longo Prazo, bem como inúmeros estudos neurocientíficos que corroboram a psicanálise.

Há meta-análises que comprovam a eficácia igual ou maior do que as chamadas terapias empiricamente sustentadas.

Evidências de eficácia e eficiência da psicanálise e de suas manualizações como terapia psicodinâmica foram apresentadas.

Dizer que os critérios de confiabilidade dos testes de regularidade estatística reduzem o nível de confiabilidade é uma falácia pois prova que:

A psicanálise apresenta evidências (que são testáveis ao nível da discussão de qual programa de qualificação deve ser usado);
Ela não se recusa a prestar contas ou se justificar cientificamente;


Outras psicoterapias também fracassam quando se eleva os níveis de exigência metodológicos e;


Isso acontece em muitas e na maior parte das pesquisas em medicina, como declara o Instituto Cochrane.


Portanto, estamos aqui diante do viés de parcialidade.

Em vez de trazer o dissenso científico, as hipóteses concorrentes e a controvérsia que move o debate científico, apresenta-se apenas uma versão das evidências, julga-se evidências de forma desigual e gradualmente se infiltra nas afirmações científicas acordos, consensos ou normas criadas para qualificar e hierarquizar a força das evidências.

2. Conhecimento e antiguidade

“Desde os anos 1950 a psicanálise é dada como exemplo de pseudociência”

Nenhum conhecimento é mais verdadeiro ou mais falso pela sua antiguidade.

Os Elementos de Euclides e a Lógica de Aristóteles continuam eficazes para o enfrentamento de inúmeros problemas, ainda que a matemática e a lógica tenham avançado em complexidade e alcance.

O uso de palavras em ciência deve cuidar criteriosamente do fato de que muitas vezes as mesmas palavras possuem um sentido corrente e popular, muito diverso do uso técnico conceitual.

O conceito de pseudociência, proposto por Popper, emerge no contexto do esforço deste autor para demarcar o conhecimento científico daquilo que pode ser considerado, naquele momento, como não científico.

Com o passar do tempo a palavra pseudociência adquiriu um sentido negativo, de impostura, má-fé, que nem sempre está contido no conceito original.

No entanto, a principal característica da pseudociência para Popper é que seus enunciados não são falseáveis, ou seja, eles não podem ser contraditados por experiências empíricas ou examinados por sua consistência lógica.

Ora, um autor como Grünbaum, curiosamente citado pelos autores em questão, mostrou em 1984 que a psicanálise comporta falseamento de proposições. Para este autor existem argumentos circulares (tally arguments) que são problemáticos no interior da psicanálise, e que ela deveria se esforçar por produzir evidências extraclínicas.

De fato, um pesquisador americano chamado Schevrin [1] apresentou uma evidência deste tipo, com a qual Grünbaum consentiu quanto a sua pertinência.

Um divulgador científico não pode desconhecer fatos para apresentar afirmações contundentes.

Juízos desqualificativos devem ser evitados.

3. Casos clínicos de Freud

“Os casos trazidos por Freud estão distorcidos”

p. 189

“Os casos clínicos de Freud são imposturas do início ao fim”

p. 190

Desde os anos 1980 vários pesquisadores em história da psicanálise como Masson, Sulloway, Rozen, Swales e Crews revisitaram os casos clínicos de Freud e, conversando com ex-pacientes, inclusive casos não publicados, trouxeram um retrato de como Freud trabalhava efetivamente.

Vários destes relatos continham contradições com o que Freud dizia que devíamos fazer na condução e tratamentos. Isso tornou os casos clínicos um material pouco rigoroso e impreciso para avaliar a prática psicanalítica.

Mas seria justo examinar relatos clínicos de cem anos atrás com os mesmos padrões de rigor e fidelidade que exigiríamos hoje?

O trabalho destes autores esteve ligado a uma grande onda de críticas à psicanálise que tomou conta principalmente dos meios de comunicação norte-americanos nos anos 1990.

Curiosamente, não se encontrou nessa devassa nenhum sinal de assédio, intrusão aproveitadora na vida de pacientes ou faltas éticas mais graves.

Casos clínicos devem ser lidos como paradigmas e exemplos, não como generalizações indutivas. Muitos são modelos de fracasso, não de sucesso ou prova de eficiência.

Não é por pesquisas randomizadas com duplo cego e placebo que a psicanálise construiu seu sistema de métodos, técnicas e transmissão de conceitos.

Isso deveria ser levado em conta na apresentação ou no ajuizamento de suas evidências.

4. Religiosidade da psicanálise

“O projeto científico a princípio legítimo [da psicanálise] degenerou em uma forma de religião secular”

p. 185

Não se apresenta nenhuma evidência científica sobre isso. Nenhuma pesquisa mostrando a não eficiência ou a religiosidade da psicanálise.

Mesmo se não existissem evidências, isso não equivale a evidências negativas, ou seja, a prova do que se está a afirmar.

Trata-se de uma opinião que cria um viés de contrariedade.

Isso parece ser a tônica de artigos sobre a psicanálise divulgados em Questão de Ciência com títulos como “Negacionistas que agora defendem a ciência”, “Conspiração do Inconsciente” ou “Ciclo Interminável de Confirmação da Pseudociência”.

O viés de confirmação apresentados por tais textos está abaixo da crítica.

O dogmatismo na exposição está acima do razoável e a ausência de argumentação é patente.

5. Ciências humanas

“[…] Se o método pelo qual a psicanálise foi construída não se sustenta, as humanidades também não se sustentam – incluindo História, Ciência Política, Linguística e Economia também não […] a psicanálise é o homem-bomba no prédio das humanas”

p. 185

Aqui salta aos olhos a mistura de desinformação, preconceito e generalização imprópria.

Há muitos outros métodos em ciências humanas. A psicanálise não é tão central assim e há muitas críticas dentro das ciências humanas à psicanálise.

Em resumo, não se deve criar espantalhos, nem conceituais nem políticos, para imaginar que assim é mais fácil destruí-los.

No debate de ideias é ruim, na divulgação científica é péssimo.

A imagem de um “homem-bomba” sugere que psicanalistas agem como terroristas, indiferentes ao debate científico, incapazes de apresentar razões e justificativas para o que fazem, além de serem nocivos.

O argumento sub-reptício é de que deveríamos eliminar “o homem-bomba” como forma de purificar as “ciências humanas” de sua falta de ciência, rigor e boa-fé.

Ora, a ideia de que as ciências humanas são um problema, quando elas não seguem padrões, normas e procedimentos das ciências ditas “duras” como as exatas, é conhecido como cientificismo, cientismo ou de forma um tanto imprecisa de “positivismo”.

Afinal se a história, a linguística, a sociologia, as ciências políticas, a teoria da literatura, a antropologia devem ser tornadas ilícitas, junto com a psicanálise, é porque elas não estão de acordo com este único pensamento convencional, normativo e coercitivo, como estamos vendo agora, chamado ciência.

Este tipo de juízo pode soar arbitrário para muitas pessoas, e isso nos faria entender por que tantas pessoas desconfiam da ciência e não estão dispostos a ceder a consensos como este.

Nesta medida este tipo de juízo cria um tudo ou nada. Ou estamos com a ciência, assim definida, ou estamos contra ela e somos “terroristas”.

A ideia de que se pode ser crítico, capaz de pensar e usar a razão até mesmo para refletir sobre os limites da ciência, como queria Kant, o inventor moderno da separação entre filosofia e ciência, passa longe neste ponto.

6. Erros conceituais

“A existência do inconsciente tem poder”

p. 188

“A evidência relativa aos fatos deve existir independente da teoria”

p. 189

“O conceito de repressão é problemático porque a memória não é armazenada em um hardware, reconstruções implicam a interferência de outras memórias”

p. 195

“Traumas (PSTD) não são memórias faltantes mas lembranças das quais alguém não consegue se livrar”

p. 196

“Transferência é dependência e submissão infantil ao analista”

p. 196

O inconsciente não é um fato, mas uma hipótese.

Sonhos, sintomas, atos falhos, esquecimentos, chistes são fatos aos quais esta hipótese se aplica.

Sua existência independe da teoria psicanalítica e ele é estudado pela psicologia, pelas neurociências e pela medicina muito antes da psicanálise.

Como Freud argumentou, psicanálise não é sugestão, nem influência. E o hipnotismo foi um método descartado explicitamente por Freud em 1897.

Transferência não é submissão, mas um meio de ajudar o paciente a sair delas.

Quem quer divulgar ciência ou anticiência não pode cometer erros conceituais tão elementares.

7. Biógrafo de Freud

“Crews, biógrafo de Freud, definitivamente não é um ótimo ponto de partida”

p. 188

Mostrei como Crews é um biógrafo tendencioso, isolado e divergente de outros biógrafos de Freud.

Um autor “fora da curva” que usa as 666 páginas de seu trabalho para mostrar que Freud usou cocaína por mais tempo do que ele disse que usou (o que parece correto), mas também que seu “desejo de possuir jovens virgens era incompatível com a conhecimento” e que ele teria abusado da irmã e tido um caso com a cunhada, sem qualquer evidência plausível para tais afirmações.

8. Enumerações

“O mundo é controlado por comunistas, marcianos ou pulsões inconscientes, instâncias confirmatórias e provas cabais”

p. 193

Enumerações como estas dominam o livro, que pretende ser um apanhado de práticas as quais não devemos dar valor, nem levar a sério, porque são “bobagens”.

A técnica de reunir adversários em grupos, para homogeneizar preconceitos e somar intolerâncias, não é de fato um procedimento científico, mas uma estratégia típica das retóricas de consumo ou das polarizações ideológicas.

Aqui, mais uma vez, encontramos exemplos “cabais” de como nossos autores sofrem do mal que pretendem erradicar.

9. Psicanalistas poderosos

“Como um sistema baseado numa lógica tão pueril pode ter se tornado tão popular por um século, entre tantas pessoas cultas, educadas e inteligentes?”

p. 193

“Os terapeutas que nos manipulam nas trevas”

p. 195

“Eu sei o que você, ou qualquer outro político, escritor, cineasta, povo ou civilização está pensando, melhor do que você”

p. 197

“A mulher que diz não, na verdade diz sim”

p. 194

“Os únicos pensamentos autênticos que a pessoa tem são os que lhe foram dados pelo psicanalista”

p.197

A psicanálise pode ter muitas insuficiências e limitações, mas reduzi-la a um espantalho feito de “lógica pueril” e “conspiração do inconsciente” é um desserviço epistêmico que realmente não se ajusta ao que qualquer psicanalista poderia reconhecer como uma representação minimamente fiel de sua prática.

Fazer bons retratos, modelos rigorosos ou representações fenomenologicamente consistentes do objeto que se quer criticar é um procedimento básico em ciência.

Dizer que psicanalistas impõem seu léxico, suas ideias e seu saber aos pacientes é algo que é clara e francamente criticada pela maior parte de seus autores.

Freud falava em busca de neutralidade, apresentava a psicanálise em contraste com a sugestão e criticava os métodos de influência.

Se há uma fonte para justificar este retrato onde está ela? Faltam evidências. Nenhuma delas, nem robusta nem preliminar, foi apresentada sobre este retrato.

Na próxima coluna, prosseguiremos com a análise do livro de Natalia Pasternak e Carlos Orsi e abordaremos como é possível avaliar as psicoterapias.

REFERÊNCIAS

[1] Beer, Paulo (2018) Psicanálise e Ciência. São Paulo: Blücher.

Feminismos, reprodução social e violência estrutural. Entrevista com Verónica Gago

Quando Verónica Gago, pesquisadora e professora da Universidade de Buenos Aires, fala da reprodução social como um campo de politização e luta, que tem o potencial de desmantelar – ou ao menos questionar – as dinâmicas abusivas instauradas na América Latina pelo modelo neoliberal, sua análise é pontual e concreta: a reprodução social refere-se a todas aquelas atividades, ações, relações, serviços, instâncias e infraestruturas necessárias para o desenvolvimento da vida ou, como diz o próprio conceito, para a sua reprodução.

A entrevista é de Emiliana Pariente, publicada por La Tercera, 09-12-2022. A tradução é do Cepat.

Às vezes, como explica a especialista, esquecemos que a vida não se produz de forma automática e que este trabalho – porque é um trabalho – requer esforços e condições favoráveis para que seja realizado. É justamente nos momentos de crise, como o que vivemos hoje, que voltamos a nos conscientizar a respeito da ideia de que a reprodução social, algo que em outros tempos pareceria evidente e fortuito, não está minimamente garantida e de forma alguma é um ato automático.

Pelo contrário, para que se realize requer certas garantias e direitos básicos que, atualmente, foram privatizados e transformados em negócio. “O conceito de reprodução social serve para evidenciar a profundidade da crise atual. O fato de suas atividades não serem óbvias, nem garantidas, mas também um campo de especulação e concentração de negócios para o capital, oferece-nos uma característica histórica deste momento”, reflete.

Nos últimos tempos, esse é o debate estabelecido nos países da região, especialmente naqueles em que os indicadores tradicionais utilizados para mostrar o desempenho econômico (que por muito tempo demonstraram ser bem-sucedidos) contrastam com a realidade vivida pelos setores médios baixos, totalmente precarizados.

No Chile, em particular, esse segmento – que cruzou a linha da pobreza, mas vive endividado – chega a 43% da população. Desse total, 44% são mulheres chefes de família. Para esse segmento, a promessa neoliberal não foi cumprida. E é isto que hoje está em questão: Como a vida se reproduz, se os elementos básicos que permitem a realização harmônica e digna de nossas necessidades vitais não estão garantidos?

“Por muito tempo, pensou-se que bastava o salário para reproduzir a vida, mas nos momentos de crise vemos que não é o suficiente para realizar nossas atividades diárias, nem para contar ter os recursos indispensáveis para o bem-estar”, explica Gago.

É aí, conforme aprofunda, que feminismo e reprodução social convergem, pois são as lutas feministas que tematizam esse conjunto de atividades. “Os feminismos apresentam a reprodução social como um campo de luta e, portanto, também mostram quem hoje está colocando seus corpos para que essa reprodução, em condições críticas, possa ser realizada. É uma relação ambivalente. Por um lado, questionam os mandatos de gênero que tornam as mulheres as responsáveis em garantir a reprodução social, mas, ao mesmo tempo, mostram que esse trabalho é fundamental para garantir a vida coletiva e comunitária”.

Gago, recentemente convidada para a Cátedra Norbert Lechner, organizada pela Universidade Diego Portales [Chile], avalia que são os movimentos feministas que conferem dignidade política às lutas da reprodução social, que por muito tempo foram consideradas causas secundárias à grande luta salarial. “Pretende-se vender o neoliberalismo como uma espécie de pacificação das energias sociais, na qual é muito mais a energia empresarial a que organiza o social. E penso que o feminismo, sendo um dos movimentos mais relevantes da região, vem para dizer que o neoliberalismo é violento e que a violência patriarcal é, por sua vez, neoliberal”.

Você diz que foram os movimentos feministas que deram à noção de violência outra dimensão, inclusive, reformulando a narrativa binária de vítima e empoderada.

Os movimentos feministas estão fazendo uma caracterização da violência que não fica restrita apenas ao interior dos lares e não é lida em termos de violência intrapessoal. Ao contrário, relaciona o que acontece nas casas com outras formas de violência estrutural e coloca os lares como um dos focos privilegiados dessas violências.

Contudo, não a fecha apenas entre quatro paredes. Isto confere um caráter político à violência e à exploração que ocorre dentro de casa e desprivatiza essas dinâmicas. Desprivatiza o trabalho gratuito que se faz em casa e no bairro e expõe a violência como uma forma de exploração de corpos e territórios.

Essa é mais uma potência dos feminismos atuais: sua capacidade de vincular e entrelaçar diversas lutas, que são por território, natureza, moradia, serviços sociais, educação sexual integral e educação gratuita. Em outras palavras, o movimento construiu uma matriz de compreensão que torna possível conectar todas essas lutas e, ao mesmo tempo, mostrar-se como lutas contra a violência sistêmica.

Soma-se a isso o fato de que os movimentos feministas revelam as nuances da narrativa vítima/empoderada. Por um lado, a narrativa da vítima permite ao poder ditar quais são as boas vítimas, as que são credíveis, pois nem todas são aceitas. E, ao mesmo tempo, como não cair, ao contrário, no discurso empoderado da empresária de si mesma [?]. Aí está a armadilha.

Por isso, é muito importante pensar em como desarmar concretamente este binarismo, que inclui duas posições muito cômodas para o neoliberalismo. São as únicas que nos oferece. Pelo mesmo motivo, penso que o movimento feminista está demonstrando as outras experiências que estamos produzindo para entender a violência e, ao mesmo tempo, gerando instâncias de enfrentamento e acompanhamento, luto e contenção.

Integrar essas duas dimensões, a da luta e a da dor, é intolerável para a oferta neoliberal, pois justamente quando aceitamos ser vítimas, parece que renunciamos a nossa capacidade de desejo e luta, e quando aceitamos apenas ser empoderadas, estamos negando a violência sistêmica. É um par que precisa ser desarmado porque funcionam juntos.

Além disso, são duas posições que se apoiam em uma ideia de indivíduo fechado em si e, a partir do feminismo, estão sendo realizadas experimentações pessoais e coletivas para ver quais outras posições subjetivas existem, posições que são capazes de combinar a luta e a dor, que são capazes de combinar a necessidade de autonomia econômica, sem que isso seja um discurso capturado pelo neoliberal.

Os feminismos populares que problematizam as dinâmicas da reprodução social e que propõem dinâmicas de organização e colaboração surgem como uma resistência ao modelo?

As crises facilitam certa criatividade política e a autogestão e reapropriação de funções. Penso que a reprodução social é um campo de experimentação no qual os movimentos feministas podem evidenciar as carências e, ao mesmo tempo, propor outros modelos de organização. O que está em disputa agora é como, a partir da organização da reprodução social, organizamos a política. Acredito que ao politizar esse campo, as lutas feministas estão questionando o que significa transformar a vida cotidiana e, a partir daí, tudo mais.

Você fala sobre o patriarcado do salário. Poderia explicá-lo?

É um conceito de Silvia Federici, que indica que o salário não é apenas uma soma de dinheiro, mas uma ferramenta política. É o que permite dividir a classe trabalhadora entre assalariada e não assalariada. Nesse sentido, as e os trabalhadores que não recebem salário não são reconhecidos por sua capacidade de trabalho, nem pelo trabalho que realizam.

Isso vale para os trabalhadores camponeses, que não recebem salário, também para as mulheres, com o trabalho doméstico e de cuidados. Por não receberem um salário, ficam automaticamente subjugadas por aqueles que, sim, recebem salário e se estabelece uma hierarquia e uma ordem sexual dentro dos lares. O cenário mais extremo é quando, por falta de autonomia econômica, as mulheres ficam presas a situações de subordinação e abuso.

Nos países latino-americanos, onde os direitos fundamentais para viver foram privatizados, a dívida se tornou uma obrigação?

Nos países onde as coisas básicas precisam ser compradas, há uma financeirização da reprodução social, e isso significa que para viver precisamos nos endividar. A dívida não é mais uma exceção em casos de emergência; é uma obrigação. É o fato de a dívida ser hoje a que organiza e possibilita a reprodução social que permite uma invasão do sistema financeiro na vida de todos.

Ao mesmo tempo, é uma forma de abrandar a precariedade, porque quando nos endividamos, assumimos que a renda que temos não é suficiente. Contudo, em vez de ficarmos furiosos e pensarmos em como reivindicar mais renda, assumimos a responsabilidade e nos sentimos culpados. Para sair desse ciclo, entramos em dívidas, pois, afinal de contas, é o que torna a precariedade mais suportável.

Em determinado momento, isso fica insustentável, insuportável e finalmente explode, emocionalmente, afetivamente. O corpo se manifesta com dor e doença e, depois, explode socialmente. Por isso, há alvoroços em nossos países.

Foi o que aconteceu no Chile. Inclusive, começou-se a falar sobre saúde mental e que esse modelo nos mergulhou em uma depressão. De fato, almejava-se uma mudança estrutural?

Penso que sim. E a mudança acontece, mas leva tempo e vai se traduzindo aos poucos em diferentes temporalidades e dimensões da transformação. Se pensarmos em termos processuais, é difícil condensar que todo esse processo político foi anulado por um resultado. Não estou dizendo que o resultado do Plebiscito não seja extremamente importante, de fato, abre muitas questões e debates que devem ser enfrentados. Contudo, não se deve encerrar um processo por causa de um resultado.

Hoje, é necessário pensar quais estratégias as organizações, os movimentos, as dinâmicas sociais e a política vão assumindo. E não é possível negar que há uma mudança importante no tipo de discussão e debate público sobre o que é o neoliberalismo, a necessidade de recursos, infraestrutura e direitos sociais.

Há também uma questão que permanece aberta, que é: “o que significa enfrentar hoje as formas de recolonização do nosso continente” [?]. O interessante é que nossa região está permanentemente em movimento em relação a essas questões. Não há pacificação na América Latina.

O livro “Uma leitura feminista da dívida”, escrito por Luci Cavallero e Verónica Gago, está disponível aqui

Lute para vencer

Uma análise de “Apoio Mútuo: construindo solidariedade durante essa crise (e a próxima)”, por Rory Elliot*

Imagem: reprodução

Com “Apoio Mútuo: construindo solidariedade durante essa crise (e a próxima)”, o ativista trans e professor de direito Dean Spade desafia o leitor e o movimento de esquerda como um todo a perceber o poder do apoio mútuo nas lutas coletivas pela libertação. Spade ajuda a definir a longa e muitas vezes não contada história do apoio mútuo como um ato de “construir redes subversivas de cuidado que são de extrema importância para envolver, radicalizar e fornecer diretamente para nossas comunidades”. Citando a história revolucionária e a luta contemporânea do Partido dos Panteras Negras, os esforços do Apoio Mútuo em Desastres, ao movimento de protesto antigovernamental de Hong Kong, Spade deixou cair em nosso colo coletivo um roteiro fácil de ler para semear, cultivar e fortalecendo nossos movimentos, exatamente quando mais precisávamos.

Profundamente influenciado pela visão abolicionista e pela acessibilidade do texto de Angela Davis entitulado “Estarão as prisões obsoletas?”, o livro “Apoio Mútuo” tem menos de 200 páginas, impecavelmente pesquisado e crítico para sustentar e florescer nossa imaginação radical agora e nas lutas futuras. Spade expõe que desastres e crises planejadas ou inesperadas há muito são oportunidades para manobras políticas, repressão violenta, ocupação militar, floreios de novas tecnologias de vigilância e, mais insidiosamente, reformas. Com demonstrações históricas de solidariedade inflexível e poder popular, o autor mostra como e quando esses mesmos desastres se tornam oportunidades para ativistas e militantes se envolverem em mudanças radicais por meio da hibridização de ação local e redes massivas de assistência comunitária.

2020 revelou a muitos, e garantiu a alguns poucos, que a manutenção do status quo é a crise; o Estado e seus mecanismos e políticas, suas raízes, suas reformas e o firme desejo oportunista. COVID-19, mudança climática, imigração, assassinato policial, vigilantismo branco, número de mortos na prisão e a ascensão do fascismo direto e revelado em todo o mundo não são fenômenos inseparáveis. Muitos perceberam que diante de tanto caos, a única coisa que temos é uns aos outros; O apoio mútuo é a nossa salvação.

Embora profundamente ancorado no pensamento e análise revolucionários, este não é um livro de teoria política, nem uma exploração do que aconteceu. É um olhar ansioso para o que é possível e necessário.

O apoio mútuo, feito de forma radical, permite que as pessoas determinem e atualizem os caminhos para sua própria libertação por meio do crescimento coletivo, participação na liderança e ação. Também pode atuar e ser usado como rampa de acesso à luta política; uma resistência praticada aos modelos de organizações sem fins lucrativos dos supremacistas brancos.

“Apoio Mútuo: construindo solidariedade durante essa crise (e a próxima)” fornece uma estrutura crítica para desafiar os movimentos dos quais fazemos parte, além de fornecer um roteiro para desafiar organizações, desafiar a nós mesmos como ativistas e militantes e desafiar uns aos outros para estarmos prontos para a luta que está à frente. Dá-nos o contexto de negligência governamental e resistência antigovernamental, os padrões de concessões, cooptações e exemplos de movimentos radicais que conseguem criar mundos melhores que sabemos serem possíveis.

À medida que o verão se transforma em outono, e porque tudo está em jogo e estamos lutando para vencer, precisamos de Apoio Mútuo.

*Rory Elliott é estudante de Portland, membro da organização abolicionista Critical Resistance, membro do coletivo editorial do The Abolitionist Newspaper e organizador da campanha Antipolicial Care Not Cops PDX. Atualmente, co-dirige a campanha de arrecadação de fundos do ACT UP Oral History Project. Colabora com Between Certain Death and a Possible Future: Queer Writing on Growing up with the AIDS Crisis.

O texto acima foi publicado originalmente no Fifth Estate – Radical publishing since 1965 e traduzido e republicado no Blog da Criação Humana.

“Escrever como escavando um túnel em uma mina. Produzir textos que iluminam a cena, determinam tomadas de posição e, em seguida, como um disparo sinalizador ou como um coquetel molotov, dissolvam-se em seus próprios efeitos sem deixar rastro”, por Sandro Chignola

Escrever sobre Foucault nos expõe a um duplo risco. Por um lado, fazer dele um autor. Por outro, dissolvê-lo, extrapolando muito facilmente seus trabalhos-fórmulas, suas categorias ou seus conceitos para reutilizá-los em outros contextos e para outros fins. Sabemos que Foucault, muito relutante à primeira opção – aquela que lhe teria polido um perfil, reconstruído uma coerência, ignorado os bloqueios ou omitido suas recolocações para consagrá-lo como um capítulo da história da filosofia – esperava para seus textos preferencialmente a segunda. Escrever como escavando um túnel em uma mina. Produzir textos que iluminam a cena, determinam tomadas de posição e, em seguida, como um disparo sinalizador ou como um coquetel molotov, dissolvam-se em seus próprios efeitos sem deixar rastro. Esta segunda opção é, talvez, a que mais se sedimentou desde o ponto de vista das revisões, dos deslocamentos, das intersecções das análises foucautianas com outros saberes – não exclusivamente filosóficos – e com as problematizações radicais do estatuto das disciplinas. Todavia, essa não é a única ou, ao menos para mim, talvez não seja a mais relevante.

Estudar Foucault nos seus textos não significa atribuí-lo novamente à filosofia. Significa mais precisamente repensar a própria filosofia, a consistência e a pretensa autonomia dos seus arquivos, os limites entre os quais ela é circunscrita enquanto saber universitário para tentar forçá-los e pô-los em crise. Fazer isso não significa, por certo, abandonar a filosofia. Ao contrário, o que se libera, deste modo, é um movimento de caminhada e retorno entre o seu interior – suas séries autorais, seu cânone, seus estilos – e o seu exterior; um exterior feito de processos, práticas, conflitos sobre os quais se medem – no caso em que a filosofia saiba aceitar o desafio – seu ritmo e sua capacidade de resistência. Foucault, sob essa perspectiva, pode ser estudado como filósofo e, simultaneamente, como desestabilizador radical do estatuto da filosofia como saber. Oferece-nos um exemplo, um dos mais radicais, de uma autêntica política da filosofia. Uma política da filosofia capaz de romper a inércia de uma tradição, a da filosofia política em particular, e a separação entre a práxis e a teoria sobre a qual ela reproduz seu disciplinamento específico.

Os cursos que Foucault ministrou no Collège de France, cujas edições recentemente se encerraram, representam uma ocasião particularmente oportuna para levar adiante esta operação. Uma operação que Foucault realizou pessoalmente, utilizando os cursos como um laboratório onde colocava à prova seus próprios argumentos, modificando-os, retomando-os ou abandonando-os, tornando possível utilizá-los, em um segundo momento, em seguida, como portões de acesso a uma produção – aquela de Foucault – marcada por uma inquietude constante.

O mesmo se pode dizer das entrevistas, resenhas, intervenções, mesas redondas etc. incluídas nos Dits et Écrits, que, conjuntamente aos cursos no Collège de France, constituem uma parte significativa dos textos sobre os quais me baseei na redação destes seis seminários. Longe de representar momentos pouco relevantes de uma produção contingente e ocasional com relação aos seus grandes livros publicados – uma conclusão que seria possível extrair unicamente aplicando a Foucault um estigma autoral – estas intervenções condensam o significado geral de um empenho intelectual que se desenvolve inteiramente sob o signo da atualidade. Trata-se de tomada de posição que, em muitos casos, indicam a direção na qual o seu trabalho se movimenta e que se oferecem como portas de acesso ou como vias particularmente úteis ao laboratório foucaultiano.

“Portas de acesso”, “vias” ou “entradas”: não uso estes termos por acaso. Estes seminários não oferecem uma interpretação unitária ou definitiva de Foucault. Não o fazem devido aos motivos apontados na abertura. Representam trajetórias, caminhos, entrecruzamentos da produção de Foucault que partem de pontos de vista específicos e unilaterais – jamais casuais, com certeza –, e que buscam, ao menos para quem escreve, problematizar não mais – e não somente – uma obra, mas o estatuto e a discursividade dos saberes aos quais ela está ligada, ampliando seus efeitos.

O título escolhido para este volume pretende trazer à temática exatamente este movimento. Os seis seminários que apresento ao leitor não se concebem como capítulos de um livro cujo desenvolvimento avança progressivamente do primeiro ao último, mas como percursos dotados cada um de sua própria autonomia. As eventuais repetições e insistências que poderiam cansar aqueles que se decidam a percorrê-los em série não aparecerão àqueles que, do contrário, decidam ler, como é evidentemente possível ocorrer, cada um em si mesmo.

Os textos coletados neste volume foram escritos por ocasiões de seminários ou de intervenções pelas quais fui convidado na Itália ou no exterior. Entre eles, quero recordar aqueles particularmente vivazes pelas discussões que se seguiram: na École Normale Supérieure de Lyon, na Universidad Nacional de San Martin (Buenos Aires) e na Universidad de Córdoba na Argentina, na Université de Toulouse-Le Mirail, na Università di Palermo, em Roma-La Sapienza, Bologna e Trento, na Scuola di dottorato in Filosofia e na Scuola Galileiana da Università di Padova. Agradeço novamente a todas e a todos aqueles que os promoveram. Com exceção ao texto até agora inédito sobre Foucault e Marx, publicado aqui como capítulo segundo, “Fábricas do corpo”, os demais já foram publicados com título e em versões diferente. O primeiro, “O impossível do soberano. Governamentalidade e Liberalismo”, aqui quase inteiramente reescrito, foi incluído em S. Chignola (editor), Gorvernare la vita. Un seminario sui Corsi di Michel Foucault al Collège de France (1977-1979), Ombre corte, Verona 2006; o terceiro, “A política dos governados. Governamentalidade, forma de vida, subjetivação”, amplamente reelaborado para esta ocasião, saiu originalmente, em espanhol, na revista argentina Deus Mortalis, 2010; o quarto, “Koinonikon zoon. Os estoicos e a outra modernidade”, o único não diretamente sobre Foucault, mas escrito a partir dos problemas abertos pela leitura de “A Hermenêutica do Sujeito”, encontra-se incluído na compilação Concordia discors. Studi in onore di Giuseppe Duso, Padova University Press, Padova 2012; o quinto, “Phantasiebildern/Histoire fiction: Weber, Foucault”, foi publicado em P. Cesaroni e S. Chignola (editores), La forza del vero. Un seminario sui corsi di Michel Foucault al Collège de France (1981-1984), Ombre Corte, Verona 2013; o sexto, “A Coragem da verdade: parrhésia e crítica saiu quase simultaneamente a este livro, em Politica e Religione. Annuario di teologia política.

Muitas e muitos têm contribuído para a formação destes textos, para reescrevê-los, para corrigi-los e para apurar as interpretações que neles se vêm definindo. Entre eles, meu agradecimento particular a Emmanuel Biset, Claudio Cavallari, Pierpaolo Cesaroni, Edgardo Castro, Girolamo De Michele, Jorge Dotti, Bruno Karsenti, Sandro Mezzadra, Toni Negri, Michele Nicoletti, Judith Revel, Michel Senellart, Paolo Slongo, Lorenzo Rustighi, Giulia Valpione, Adelino Zanini.

O livro “Foucault além de Foucault: uma política da filosofia”, de Sandro Chignola, está disponível. Clique aqui para adquirir!