![\"\"](\"https:\/\/criacaohumana.com.br\/wp-content\/uploads\/2022\/09\/WhatsApp-Image-2022-09-05-at-09.09.57.jpeg\")
<\/p>\n\n\n\n
Este \u00e9 o fato mais grave desde a recupera\u00e7\u00e3o da democracia. Um evento de gravidade institucional inusitada, mas que vemos particularmente como uma mensagem e uma tentativa de disciplinamento para toda a milit\u00e2ncia. Sobretudo, para as mulheres que ousam fazer pol\u00edtica, alcan\u00e7ar posi\u00e7\u00f5es de lideran\u00e7a e enfrentar poderes econ\u00f4micos.<\/p>\n\n\n\n
<\/p>\n\n\n\n
\u00c9 uma pedagogia em grande escala: se voc\u00ea entrar na pol\u00edtica, se representar os interesses populares e for mulher, pode acabar com uma arma na cabe\u00e7a. Aquele rev\u00f3lver na cabe\u00e7a de Cristina \u00e9 um rev\u00f3lver na cabe\u00e7a de todas as mulheres, l\u00e9sbicas, travestis e trans que se animam a disputar e dar debater em seus espa\u00e7os pol\u00edticos.<\/p>\n\n\n\n
<\/p>\n\n\n\n
\u00c9 um rev\u00f3lver que todas n\u00f3s temos em nossas cabe\u00e7as<\/strong>. Para n\u00f3s, a imagem \u00e9 muito forte e tamb\u00e9m \u00e9 muito forte que ela esteja se repetindo. Pensamos em como ser\u00e1 agora para aquelas meninas que cresceram com a imagem de Cristina na televis\u00e3o nacional, com a imagem de uma mulher forte, de uma mulher que respondeu aos poderes, e que agora veem que fazer pol\u00edtica nessa escala e mexer com esses interesses sendo uma mulher pode fazer com que um rev\u00f3lver seja colocado em sua cabe\u00e7a.<\/p>\n\n\n\n <\/p>\n\n\n\n \u00c9 claro que acreditamos que o rep\u00fadio tem que ser absoluto. Um rep\u00fadio que n\u00e3o tem a ver apenas com Cristina, mas com a vida de toda a milit\u00e2ncia, com a possibilidade de viver em um Estado de Direito, em uma democracia onde a mobiliza\u00e7\u00e3o popular, a organiza\u00e7\u00e3o e a milit\u00e2ncia feminista s\u00e3o poss\u00edveis.<\/p>\n\n\n\n <\/p>\n\n\n\n E, al\u00e9m disso, acreditamos que isso deve gerar um debate profundo. Uma das primeiras leituras feitas pela oposi\u00e7\u00e3o, com o objetivo de diminuir a gravidade do fato, foi falar a partir dos argumentos mais grotescos, dizendo que poderia ser algo orquestrado inclusive pelo pr\u00f3prio kirchnerismo.<\/p>\n\n\n\n <\/p>\n\n\n\n Mas, o que se instalou – e que para n\u00f3s \u00e9 o mais nocivo -, \u00e9 a ideia do “louco \u00e0 solta”, de algu\u00e9m isolado que tenta cometer o assassinato. E isso nos lembra muito as explica\u00e7\u00f5es que existem quando dizemos claramente que os feminic\u00eddios e que a viol\u00eancia contra a mulher, a viol\u00eancia contra mulheres travestis e trans, contra l\u00e9sbicas, contra pessoas n\u00e3o-bin\u00e1ries, s\u00e3o originadas de problemas estruturais que depois se consumam na a\u00e7\u00e3o, no momento em que vemos o feminic\u00eddio ou travestic\u00eddio. Assim, a teoria do “louco \u00e0 solta\u201d parece-nos muito problem\u00e1tica. O que precisa ser gerado \u00e9 uma discuss\u00e3o profunda sobre o papel da m\u00eddia em tudo isso, que estigmatiza milit\u00e2ncias populares e lideran\u00e7as populares.<\/strong><\/p>\n\n\n\n <\/p>\n\n\n\n A maneira como os limites do que pode ser dito foram empurrados em nossa democracia e s\u00e3o sistematicamente estigmatizados, produz discurso de \u00f3dio. \u00c9 uma engrenagem midi\u00e1tica articulada com figuras da oposi\u00e7\u00e3o, mas tamb\u00e9m tem outro poder por tr\u00e1s, como o Judici\u00e1rio, que tamb\u00e9m faz parte desse processo de estigmatiza\u00e7\u00e3o.<\/p>\n\n\n\n <\/p>\n\n\n\n Devemos gerar um debate profundo, por exemplo, sobre o papel da m\u00eddia. \u00c9 inaceit\u00e1vel que continuem a ser dadas pautas oficiais aos meios de comunica\u00e7\u00e3o que promovem e incentivam o discurso de \u00f3dio. Isso tem que mudar. Tem que haver um debate profundo sobre a democratiza\u00e7\u00e3o da m\u00eddia. Temos que sair e dizer \u201cn\u00e3o\u201d, dizer \u201cbasta\u201d, estabelecer um limite.<\/strong> Eles atravessaram o limite, e tudo o que parecia estar no plano discursivo ou midi\u00e1tico, passou agora ao plano material. Para n\u00f3s, \u00e9 preciso que seja constru\u00eddo um limite muito grande, porque por tr\u00e1s dessa imagem h\u00e1 uma mensagem de disciplinamento muito espec\u00edfica para todas as milit\u00e2ncias populares e para todas as mulheres. Particularmente, para aquelas que ousam representar interesses populares e tentar intervir em espa\u00e7os dessas esferas pol\u00edticas.<\/p>\n\n\n\n <\/p>\n\n\n\n Houve tamb\u00e9m um despertar da mobiliza\u00e7\u00e3o popular. Pelo menos, da base mais identificada com a figura da vice-presidenta. Havia uma milit\u00e2ncia que estava desmobilizada e buscava voltar \u00e0s ruas e recuperar uma m\u00edstica. Essas express\u00f5es de amor na porta da vice-presidenta incomodaram muito o Judici\u00e1rio e os poderes concentrados. Qualquer coisa que foge aos seus controles incomoda. Parece-me que o que aconteceu deve ser colocado em rela\u00e7\u00e3o direta aos discursos de \u00f3dio, ao avan\u00e7o repressivo da Prefeitura na semana passada em Buenos Aires, a essa escalada da rea\u00e7\u00e3o repressiva que eles tiveram a certas express\u00f5es de amor, e que culminou ontem com essa tentativa de assassinato.<\/p>\n\n\n\n <\/p>\n\n\n\n H\u00e1 um desafio de somar a essa defesa da figura de Cristina um programa pol\u00edtico que possa conquistar setores populares mais amplos. Esse \u00e9 o desafio. Al\u00e9m de expressar esse amor e essa retomada da mobiliza\u00e7\u00e3o popular em torno da figura de Cristina, tamb\u00e9m associ\u00e1-la a uma s\u00e9rie de medidas que v\u00e3o a favor dos interesses populares.<\/p>\n\n\n\n <\/p>\n\n\n\n Luci Cavallero \u00e9 professora, pesquisadora e militante feminista. \u00c9 integrante do coletivo Ni Una Menos e do espa\u00e7o de investiga\u00e7\u00e3o feminista La Laboratoria. Escreveu o livro “Uma leitura feminista da d\u00edvida” com Ver\u00f3nica Gago.<\/a><\/strong><\/p>\n\n\n\n <\/p>\n\n\n\n